Março 21st, 2012 in Jornal das Caldas. Edição On-line
“Marcas da Cerâmica das Caldas” é desenvolvido por Marta Pereira e Guilhermina Costa.
“Há poucos livros sobre a marca da cerâmica e para os investigadores é
o melhor que pode acontecer. O livro está organizado por ordem
alfabética e refere mais de trinta produções diferentes das Caldas da
Rainha”, disse João Pedro Monteiro, investigador do Museu Nacional do
Azulejo, que esteve presente no passado dia 15, no Museu da Cerâmica, na
apresentação pública da obra “Marcas da Cerâmica das Caldas”.
Neste âmbito, o investigador foi o orador da conferência sobre “A
Importância das Peças Marcadas no Estudo da Faianças Portuguesa”, onde
falou sobre os estudos que a equipa do Museu Nacional do Azulejo tem
feito sobre a Faiança Portuguesa.
“Ao longo desse estudo detetámos que as peças marcadas têm uma enorme
importância para podermos compreender um mundo que é muito complexo”,
adiantou o investigador. Segundo o orador, “as olarias de Lisboa
encontram-se bem estudadas, tendo sido feito importantes levantamentos
documentais”. Para João Pedro Monteiro, as peças datadas permite-nos
saber exatamente “a que fábrica, produtor e autor vem a peça”. O
investigador começou a conferência focando a faiança portuguesa do
século XVII, um período em que as peças não eram marcadas.
“Marcas da Cerâmica das Caldas” foi um projeto desenvolvido pelas
técnicas do Museu da Cerâmica, Guilhermina Costa e Marta Pereira, em
colaboração com o Museu José Malhoa. Teve ainda suporte nos testemunhos
do Mestre Herculano Elias e no acervo documental do Museu,
designadamente o espólio manuscrito de Francisco José Teodoro Malhoa
(1922-2006). É segundo, Matilde do Couto, diretora do Museu José Malhoa e
do Museu da Cerâmica, um “instrumento de trabalho que compulsa as
coleções dos Museus, mas também instrumento potenciador de novas
pesquisas e atribuições”. “As coleções do Museu da Cerâmica e do Museu
José Malhoa mostram-nos também uma obra dinâmica enquanto reflexo e
motivador da investigação, crescimento e valorização das coleções
museológicas”, adiantou esta responsável.
Na nota introdutória do livro, Matilde do Couto diz que é com Manuel
Cipriano Gomes, o Mafra (1829-1905), que a cerâmica das Caldas conhece a
marcação das peças. “Manuel Mafra não só introduz este cuidado de
identificação como o mesmo corresponde a um conjunto de fatores que pela
sua mão incrementam a arte do barro, seja o apuramento das formas até
então ainda arcaizantes e a diversificação de vidrados, seja a
introdução de novas técnicas ou a bem sucedida internacionalização, num
surto inovador que caracteriza a sua atuação. Revela-se este um advento
para a cerâmica das Caldas em breve confirmado e dilatado pela chegada
de Rafael Bordalo Pinheiro (1846-1905) e a construção e laboração da
Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha (1884), onde dá largas ao seu
génio criador, enquanto alia as pesquisas e avanços técnicos à tradição e
às estéticas emergentes e projeta a Cerâmica das Caldas para o
exterior. Discípulos de Bordalo então se distinguem, como Francisco
Elias (1869-1937) e Avelino Belo (1872-1920) que se imporão com notáveis
carreiras autónomas. Dão continuidade a toda esta novidade artística
plasmada na cerâmica Manuel Gustavo Bordalo Pinheiro (1867-1920) e o
escultor Costa Motta Sobrinho (1877-1956) produzindo peças de inspiração
“arte nova” e “arte déco” em distintas fábricas oriundas do património
bordaliano”.
Segundo a responsável pelo Museu, “dinastias de ceramistas
desenvolvem a sua atividade neste contexto de grande atividade cerâmica,
concorrendo também para a afirmação de uma identidade da vila – depois
cidade a partir de 1927- e que as coleções do Museu da Cerâmica e do
Museu José Malhoa representam na sua riqueza e diversidade”.
“Marcas da Cerâmica das Caldas” foi um projeto que Guilhermina Costa
já tinha pensado há alguns anos e que acabou por concretizar com o apoio
da direção do Museu da Cerâmica. “Nas visitas guiadas a ideia que
ficava é que só havia Manuel Mafra e Bordalo Pinheiro no acervo do
Museu, quando há imensos autores do mesmo período”, disse a técnica do
Museu de Cerâmica.
Foi um trabalho que levou mais de um ano a concretizar. “Fizemos um
levantamento exaustivo das peças da coleção inteira do Museu da Cerâmica
e do Museu José Malhoa”, adiantou Marta Pereira.
Jorge Ferreira, antiquário, que esteve presente no lançamento do
livro, apontou que a obra tem algumas lacunas. Contudo, a diretora do
Museu José Malhoa e do Museu da Cerâmica disse que a obra é um
instrumento de trabalho aberta a novas propostas e que já é um sucesso
porque está a suscitar a discussão.
Adelino Soares de Oliveira, Afonso Duarte Angélico, Aires Constantino
Leal, Ângelo Marcelino Garcia, António Alves Cunha, António Moreira da
Câmara, António Sousa Liso, António Oliveira, Atelier Cerâmico, Augusto
Batista Carvalho, Avelino António Soares Belo, Costa Motta Sobrinho,
Eduardo Augusto Mafra. Eduardo Mafra Elias, Francisco Gomes Avelar,
Francisco Frazão, Herculano Elias, Jesuíno dos Reis, João Coelho César,
João de Deus dos Reis, João dos Reis, João Duarte Angélico, José Alves
Cunha, José Alves Cunha Sucessor, José Avelino Soares Belo, Jsoé
Francisco Sousa, José Luiz Saloio, L. Mesquita, Manuel Gustavo Bordalo
Pinheiro (Fábrica Bordallo Pinheiro lda.), Manuel Cipriano Gomes Mafra,
Rafael Bordalo Pinheiro (Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha), são
os autores que constam no livro “Marcas da Cerâmica das Caldas”.
Marlene Sousa
Catálogo de Marcas de Cerâmica das Caldas lançado no Museu
As autoras do catálogo com a directora dos dois museus, Matilde Couto (ao centro)
“Marcas da Cerâmica das Caldas. As Colecções do Museu da Cerâmica e do Museu José Malhoa”,
é como se designa o catálogo apresentado no passado dia 15 de Março no
Museu de Cerâmica. Além da apresentação desta edição, a sessão contou
ainda com a conferência “A Importância das Peças Marcadas no Estudo da Faianças Portuguesa”, por João Pedro Monteiro, técnico do Museu Nacional do Azulejo.
“Foi um trabalho árduo, mas muito interessante”.
Palavras de Guilhermina Costa e Marta Pereira, técnicas do Museu de
Cerâmica e autoras da publicação que consta de um catálogo das marcas da
cerâmica das Caldas que estão presentes nas peças das colecções dos
museus de Cerâmica e de José Malhoa.
Segundo a directora dos dois museus, Matilde Couto, “faz
sentido juntar as duas colecções e autorizar esta edição pois era um
pedido que me fizeram há algum tempo, ou seja, era um desejo antigo que
agora foi levado ao bom termo, com grande satisfação nossa”.
João Pedro Monteiro, do Museu Nacional do Azulejo, falou sobre a faiança portuguesa
A nova publicação segue a linha do roteiro do próprio museu. A directora explicou que a edição tem a “particularidade
da reprodução das marcas ter sido feita por fotografia a partir das
próprias peças e não terem sido desenhadas ou decalcadas como se faz
noutras publicações”.
As duas autoras contaram que este catálogo pretende ser um instrumento de trabalho que qualquer pessoa pode utilizar para “enquadrar em determinado tempo cronológico a obra dos autores”. Por exemplo, será útil durante as visitas guiadas aos museus pois
“há pessoas que quando cá chegam pensam que só há Manuel Mafra e Rafael
Bordalo Pinheiro quando na verdade há muitos mais ceramistas”, disseram.
João Pedro Monteiro, técnico do Museu Nacional do Azulejo e investigador na área da cerâmica, marcou presença para a conferência “A importância das peças marcadas no estudo da faiança portuguesa”.
Este autor afirmou que as marcas na cerâmica é um mundo ”interessante mas complexo pois há uma grande ausência de informação bibliográfica”. Para este investigador, nas Caldas da Rainha
“existem autênticas dinastias de ceramistas que faziam peças de grande
originalidade e qualidade, mas a verdade é que algumas se inspiram nas
outras, o que cria alguma confusão e dificuldade na identificação”.
Sobre o novo catálogo, João Pedro Monteiro comentou que este dá conta
de várias marcas (produções diferentes organizadas por ordem alfabética)
“o que poderá ser um instrumento muito útil para o estudo da cerâmica das Caldas da Rainha”.
Presente na sessão de apresentação esteve o antiquário e coleccionador
Jorge Ferreira que afirmou que a investigação efectuada contém “algumas incorrecções”.
Este marchand de arte referiu à Gazeta das Caldas
que, entre outros pormenores, encontrou falhas na atribuição de duas
marcas. Uma que se encontra na página 61, atribuída a José Francisco de
Sousa e que corresponde, na verdade, a J. F. Noivo Júnior.
Para Jorge Ferreira também não é correcta a atribuição da marca presente
na página 13, feita a Ângelo Marcelino Garcia que na sua opinião deverá
ser atribuída a Francisco Gomes de Avelar. Apesar do catálogo referir
que o monograma é habitualmente referente a este último autor, a nova
atribuição que as duas autoras fazem “não é correcta”. É
que o Ângelo Marcelino Garcia era juiz e a sua ligação à cerâmica é
feita apenas por ter casado com Henriqueta Cunha, filha do ceramista
José Alves Cunha. Posteriormente Ângelo Marcelino Garcia esteve ligado à
gestão da fábrica do sogro mas a atribuição da marca carece de
fundamento documental.
Contactada para comentar a opinião de Jorge Ferreira, a directora dos
museus Malhoa e da Cerâmica, Matilde Couto afirmou apenas que este
catálogo de marcas “é uma obra aberta, um instrumento de
trabalho que pode lançar a discussão, motivar novos estudos e pesquisas
em relação às marcas e à sua atribuição”, rematou.
Natacha Narciso
nnarciso@gazetacaldas.com
http://www.gazetacaldas.com/21275/catalogo-de-marcas-de-ceramica-das-caldas-lancado-no-museu/
O catálogo está perfeito, com um bom design gráfico e um excelente trabalho de investigação.
E acessível a um valor módico para fazer frente à crise! Parabéns aos autores e a toda a equipa!
“Marcas da Cerâmica das Caldas. As Colecções do Museu da Cerâmica e do Museu José Malhoa” encontra-se à venda na loja do Museu da Cerâmica de Caldas da Rainha.
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