quinta-feira, 23 de abril de 2009

Com ventos do oeste

O termo convento, do latim conventus que significa "assembleia", advém originalmente da assembleia romana onde os cidadãos se reuniam para fins administrativos ou de justiça (convéntum jurídicum). Posteriormente passou-se a utilizar com sentido religioso, relativamente ao monasticismo quando, para melhor servir e amar a Deus, os homens se retiravam do mundo, primeiro sozinhos, depois em grupos de monges (comunidades religiosas), para edifícios concebidos para o efeito, os conventos. Este conjunto de edifícios também pode ser designado por Mosteiro, do grego monos (só), e que designa um grupo de construções de residência e prática religiosa de monges ou monjas. Em termos gerais, ainda que convento seja sinónimo de mosteiro (algumas pessoas pensam, erradamente, que os mosteiros se destinam a homens e os conventos, a mulheres), a palavra convento pode ser, especificamente utilizada para as ordens religiosas de vida activa, enquanto que mosteiro se aplica, em geral, a ordens contemplativas, vocacionadas para a clausura - mas tal diferenciação, pouco clara em língua portuguesa, não acolhe unanimidade.
in: http://pt.wikipedia.org/wiki/Convento

No último ano do meu curso de Conservação e Restauro, desenvolvi um trabalho de Semirário, que se traduziu no estudo sobre o convento Franciscano de S. Bernardino (Atouguia da Baleia/Peniche), e que me levou desde então a percorrer, sobretudo na zona Oeste, conventos todos eles Franciscanos, convertidos ou reconvertidos - Varatojo (Torres Vedras) e S. Miguel (Gaeiras/Óbidos) ou ainda mantidos em ruínas: Bom Jesus (Peniche).

Tive conhecimento através do site www.ofm.org.pt que nos passados dias 27 de Março e 17 de Abril, integrados nos 800 ANOS DE FRANCISCANISMO, o Varatojo, o Convento mais antigo de Portugal onde ainda palpita o coração do «Pobrezinho de Assis», com a sua mensagem de Paz e Bem programou diversas actividades entre as quais fora apresentada uma Conferência subordinada ao tema «Franciscanos no Oeste».
Na região oeste existiram oito conventos da Ordem dos Frades Menores, nomeadamente o convento de São Bernardino (Atouguiada Baleia/Peniche), provavelmente o mais antigo, convento do Bom Jesus (Peniche), convento de Nossa Senhora dos Anjos (Barro), convento de Nossa Senhora da Visitação (Vila Verde dos Francos), convento de Santo António (Lourinhã), convento de Santo António dos Charnais (Aldeia Galega da Merceana), convento de São Miguel (Gaeiras - Óbidos) e convento de Santo António (Varatojo).

De todos estes locais que outrora haviam sido centros de vida religiosa e que hoje, devido aos ventos da história, estão praticamente ao abandono ou esquecidos na sua quase totalidade, Santo António de Varatojo é o único Convento onde a vida franciscana ainda palpita e que continua na sua missão de transmitir, ao perto e ao longe, a mensagem recebida de seus antepassados.

E este fim de semana, após ter estado presente na inauguração da Mostra de Arte de Sacra que referi na mensagem anterior, e uma vez que me encontrava nas Gaeiras, decidi passar novamente pelo Convento de São Miguel.
Situado no alto das Gaeiras, numa zona de recente urbanização, desde 1994 a Associação de Municípios do Oeste adquiriu o Convento, tendo dado inicio às obras de reabilitação, recuperação e restauro a 22 de Abril de 1998.
(achei engraçada esta questão das datas: 800 anos de franciscanos, há 8 anos o início das obras de reabilitação e uma data exacta do ínicio das obras de reabilitação, que coincide precisamente com a da publicação desta mensagem)
Já lá tinha estado após a recuperação mas só o conhecia por dentro, enquanto Museu Regional do Oeste, com respectiva área afecta ao restauro e com cerâmicas, fragmentos recuperados no decorrer das obras de recuperação e reabilitação do edifício, que constituem testemunhos da presença franciscana no local.


"Os fragmentos cerâmicos encontrados foram classificados em dois núcleos: os fragmentos de faiança e os fragmentos de olaria vidrada e não vidrada.

A colecção de faiança é o núcleo mais significativos e de mais fácil identificação, de todo o espólio encontrado. É constituído por peças de faiança portuguesa, principalmente, do século XVII. São peças com decoração a azul aplicada sobre o branco, onde predominam os temas vegetalistas de inspiração oriental. Neste período, a faiança portuguesa caracteriza-se por uma pasta de chacota clara, de tom amarelado, coberta por esmalte branco em que a pintura era, geralmente realizada em tons de azul de cobalto, aparecendo mais tarde, os contornos a roxo vinoso de manganés.

As formas revelavam as exigências do mercado, bem como a tipologia dos objectos mais utilizados. No Convento de S. Miguel foram identificadas várias peças, sendo todas elas de utilização doméstica, na sua maioria encontram-se fragmentos de pratos e tigelas, com uma decoração a azul e vinoso, onde prevalecem os “aranhões”, nos quais se encontram, as folhas de artemisa, os leques de palmeira, as moedas, as cabaças, sempre envoltos em cordões e frequentemente articulados com representações botânicas e figurações animais e geométricas.

Os fragmentos de olaria vidrada e não vidrada não apresentam características formais concretas que permitam uma rigorosa determinação da forma ou época.

Quanto à olaria vidrada, podemos salientar que pela referência às cores dos vidrados, nomeadamente castanho e verde, os objectos teriam como origem a cidade de Caldas da Rainha. Embora não existam dados suficientes que determinem a data da instalação das manufacturas de cerâmica na Região Oeste, são vários os exemplares de faiança do período oitocentista oriundos das Caldas da Rainha. São características as incisões e relevos cobertos por vidrados escorridos em tons melados e peças malegueiras. Utilizavam-se os vidrados à base de chumbo nas cores verde cobre, amarelo ferro, castanho manganês e azul cobalto.

Quanto aos objectos não vidrados é muito provável que tenham sido produzidos no próprio Convento de S. Miguel, são peças de grande simplicidade e exclusivamente utilitárias. A Justificar esta suposição, temos a existência de um forno, onde as peças podiam ser cozidas e, a descoberta durante as obras de recuperação do edifício, de alguns artefactos que podem ser associados a instrumentos de oleiro, nomeadamente, uma “trempe”, peça com três braços e bicos nos seus extremos, auxiliar da enforna; uma peça de metal que parece ser o cabo de um talher, que poderia servir de “teque”, utilizado para rectificar a espessura do barro; um compasso em ferro, comum a diversos ofícios, nos quais podemos incluir a olaria e, ainda, um conjunto de pedras que pelo facto de estarem furadas podem sugerir a extracção de algum minério utilizado na vidragem ou na pigmentação das peças.
"
in: http://www.am-oeste.pt/

Nesta visita, por se encontrar encerrado, fiquei a conhecer o Convento de São Miguel das Gaeiras por fora, que tal como outros seguidores da regra da Ordem dos Frades Menores, possui a sua cerca, mata, capela e poço, neste caso um nicho com uma fonte ou bica, como se pode ver na seguinte imagem (retirada do mesmo site: http://www.am-oeste.pt/)

Foi interessante pois a minha primeira visita não me permitira respirar ou sentir a envolvência que o próprio exterior de um Convento nos transmite por si só. A depuração que nos invade, as variedades de plantas encontradas e o silêncio dos hinos de paz... enfim, só a fé ou a arte podem traduzir tais sensações.
Desde logo, o mirante, a própria localização de onde se pode desfrutar de uma excelente vista panorâmica da vertente este da vila de Óbidos, e a cerca, como é preceito do habitar conventual, toda a parte urbana rodeada por uma extensão de território delimitada, símbolo da terra selvática que o homem deve habitar e transformar com o seu labor.
Sendo este um caso por excelência de paisagem que importa recuperar, conservar e viver, para se lhe dar o devido valor que detém no património cultural português, fiquei muito supresa ao constatar que também esta zona se encontra ajardinada e sofrera uma intervenção que se destaca pela monumentalidade dada à nascente e ao chafariz, actualmente sem outra utilização que a decorativa. Interessante também uma mina de água que se encontra do lado esquerdo do nicho da bica, que apesar de terem tentado vedar no momento das obras de requalificação, infelizmente encontrava-se com o portão arrombado.

In: Tavares (1810: 143) no final da descrição da Quinta das Janelas / Gaeiras descreve uma outra nascente: “Dentro da cerca do Convento dos Religiosos Arrábidos das Gaeiras, em distância das mencionadas águas para Leste um tiro de bala ou pouco mais, nasce uma pequena fonte, talvez dum anel de água, da mesma natureza da das Caldas da Rainha, porém menos graduada em calor. Serve para regar a terra, que lhe fica imediata.”

Deste passeio ao ar livre ainda trouxe chá de São Roberto.

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